Google muda tudo: IA afeta 50% dos acessos a sites
Nova função com IA no Google reduz drasticamente os cliques em sites. Veja o que está mudando na internet e como isso afeta você.
TECNOLOGIA


Nos últimos anos, a inteligência artificial vem remodelando a forma como nos informamos na internet. Agora, uma nova pesquisa acende um alerta para criadores de conteúdo, empresas de mídia e usuários da web: os AI Overviews, recurso do Google que exibe resumos gerados por IA no topo das buscas, estão reduzindo em até 50% o número de cliques para sites externos.
A revelação, feita por especialistas em tráfego digital e analisada por veículos como a Ars Technica e o Wall Street Journal, expõe um dilema crescente: ao mesmo tempo que entrega conveniência ao usuário, o Google estaria afetando seriamente a visibilidade de portais de notícias, blogs, fóruns e outros canais de informação.
O que são os Google AI Overviews?
Os AI Overviews são respostas instantâneas que aparecem no topo das páginas de pesquisa do Google, criadas com base no modelo de linguagem Gemini. A proposta é simples: oferecer ao usuário um resumo direto e completo da resposta procurada — sem que ele precise visitar um site.
Esse recurso começou a ser testado em larga escala em 2023 e ganhou força em 2024 e 2025, especialmente nos Estados Unidos, onde já é exibido para milhões de buscas. A promessa da empresa é facilitar a experiência do usuário, economizando tempo e entregando uma resposta direta.
Mas há um custo por trás dessa conveniência.
Estudo revela queda de quase 50% nos cliques em sites
Um levantamento realizado por Laurence O’Toole, CEO da Authoritas, consultoria britânica especializada em análise de tráfego digital, revelou que buscas que incluem os AI Overviews têm, em média, entre 40% e 60% menos cliques em links de sites tradicionais.
Em outras palavras, quando o Google mostra um resumo com a resposta já no topo, o usuário simplesmente não clica mais nos resultados convencionais.
Esse comportamento pode parecer trivial para o internauta comum, mas para quem vive de tráfego — como sites de notícia, blogs especializados, e-commerces e plataformas educacionais — a mudança é drástica e potencialmente devastadora.
Impactos diretos para criadores de conteúdo
A redução no volume de cliques afeta diretamente a sustentabilidade de milhares de sites, especialmente os que dependem de receita publicitária. Se o usuário não entra no site, ele não visualiza anúncios, não interage com conteúdos relacionados e não gera receita para quem criou aquele conteúdo originalmente.
Na prática, o modelo se inverte: o Google usa os dados dos sites para treinar sua IA, mas exibe a resposta diretamente, sem enviar tráfego de volta. A empresa garante que os AI Overviews oferecem links para os sites-fonte, mas o estudo mostra que os cliques nessas referências são mínimos.
O que era para ser uma ponte para a informação virou, para muitos editores, um atalho perigoso que mina a visibilidade e a monetização.
Casos de erros gerados pela IA do Google
Além da questão do tráfego, os AI Overviews têm enfrentado críticas por apresentar respostas incorretas, os chamados "erros alucinados". Um exemplo ficou famoso em maio de 2024: ao responder como evitar que o queijo escorregue da pizza, a IA sugeriu "usar cola não tóxica". O caso viralizou nas redes e expôs o risco de confiar cegamente nas respostas geradas por modelos de linguagem.
Outro caso recente envolveu uma busca sobre como manter a saúde mental, em que a IA sugeria atividades controversas, baseando-se em informações distorcidas.
Esses incidentes reacendem o debate sobre a credibilidade das respostas automáticas. Mesmo com os avanços nos modelos de IA, ainda há um longo caminho para garantir que as respostas geradas sejam seguras, precisas e bem fundamentadas.
Google se defende, mas não convence a todos
Em resposta às críticas, o Google afirmou que os AI Overviews passam por revisão e que são constantemente atualizados para evitar erros. A empresa também garante que os resumos são apenas complementares, e não substituem os resultados orgânicos.
Porém, muitos profissionais da área contestam essa visão. O fato de o conteúdo gerado pela IA aparecer no topo da página, em destaque visual, naturalmente chama mais atenção e desestimula o clique em links abaixo.
Além disso, os dados não mentem: diversos portais tradicionais, como HuffPost, Business Insider e The Washington Post, viram quedas de até 50% no tráfego orgânico desde a ampliação do uso da IA no buscador.
O papel das plataformas alternativas
Com a ascensão dos AI Overviews, algumas plataformas alternativas vêm ganhando espaço. O Perplexity.ai, por exemplo, tem se destacado por oferecer respostas com links claramente atribuídos, valorizando o clique no conteúdo original.
Usuários mais experientes também têm buscado motores de busca menos dependentes de IA ou utilizado bloqueadores de conteúdo gerado por inteligência artificial.
A própria OpenAI, responsável pelo ChatGPT, lançou recentemente recursos que permitem ao usuário visualizar fontes com mais clareza — uma prática que pode se tornar o novo padrão da web informativa.
Caminhos para sites e criadores de conteúdo
Diante desse cenário, criadores de conteúdo precisam se adaptar para manter a relevância e a audiência. Algumas estratégias recomendadas incluem:
Produzir conteúdo aprofundado, com análises exclusivas e informações que a IA não consegue resumir bem;
Diversificar os canais de distribuição, como newsletters, vídeos e podcasts;
Investir em comunidades fechadas e programas de fidelização, como assinaturas, clubes e fóruns próprios;
Melhorar a estrutura de dados dos sites, para serem reconhecidos como fontes confiáveis pelos sistemas de IA.
Ainda assim, essas são medidas de contenção. Para muitos especialistas, a solução definitiva exige mudanças nas políticas do Google e mais transparência nos critérios de exibição dos AI Overviews.
A web está em transformação — e exige vigilância
O avanço da inteligência artificial é inevitável. Mas, como toda tecnologia poderosa, ela precisa ser usada com responsabilidade. Quando o maior motor de busca do planeta começa a "reter" o tráfego em vez de distribuí-lo, isso afeta o ecossistema da web como um todo.
A informação na internet sempre foi construída de forma colaborativa. Os criadores de conteúdo, grandes ou pequenos, são os pilares dessa construção. Se a IA passar a “sequestrar” esse valor, será preciso repensar os caminhos da inovação.
FAQ – Perguntas frequentes sobre os Google AI Overviews
O que são os Google AI Overviews?
São resumos gerados por inteligência artificial que aparecem no topo das páginas de busca do Google. Eles respondem perguntas diretamente, sem necessidade de clicar em um link.
Os AI Overviews afetam o tráfego de sites?
Sim. Estudos mostram que esses resumos reduzem em até 50% os cliques para sites externos, o que impacta diretamente blogs, portais de notícia, fóruns e e-commerces.
O Google está usando os conteúdos dos sites sem autorização?
O Google afirma que usa apenas conteúdos indexados publicamente, conforme os termos de uso do buscador. No entanto, há críticas sobre a falta de compensação para os criadores cujos conteúdos são resumidos pela IA.
Os resumos da IA do Google são confiáveis?
Nem sempre. Há registros de erros graves e respostas absurdas geradas pelos AI Overviews, o que levanta preocupações sobre segurança e credibilidade.
O que os criadores de conteúdo podem fazer?
Adaptar estratégias de SEO, investir em canais próprios de distribuição e criar conteúdo aprofundado são algumas formas de contornar o impacto negativo dos AI Overviews.
Existe alternativa ao Google que valoriza mais os sites?
Sim. Plataformas como Perplexity.ai estão ganhando espaço por exibir fontes de forma clara e incentivar o clique no conteúdo original.
Fonte: Adaptado e baseado na matéria publicada pela Ars Technica